7 de fevereiro de 2010

Gabriel: des-caminhos de um surdo

Autoras: Camila Maria Rodrigues; Regiane Maciel de Almeida

Este relato trata da história de vida de um rapaz surdo, que aqui chamaremos de Gabriel. A entrevista foi realizada em sua casa com a ajuda de sua irmã mais velha que traduziu o que ele dizia em libras.

Quando o menino nasceu ninguém sabia da sua deficiência, todos o achavam “normal” por não apresentar nenhuma deficiência aparente. A criança não recebia muita atenção das pessoas. A mãe não brincava com ele, não proporcionava atividades para que ele desenvolvesse logo a fala. Já o pai passava a maior parte do seu tempo no trabalho e quando chegava a sua casa já era para dormir.

Com o passar do tempo, no seu aniversário de dois anos, ganhou um presente que fazia muito barulho. Foi neste momento que sua mãe percebeu que havia algo de estranho, pois o brinquedo fazendo todo aquele barulho não chamava atenção de Gabriel. Neste momento veio a preocupação.

A mãe então decidiu levar seu filho a um médico no hospital Albert Sabin. Chegando lá foram feitos vários exames e detectaram a perda de audição. Após a descoberta, Gabriel passou 2 anos fazendo tratamento no hospital. Ao completar cinco anos iniciou o jardim I em uma escola regular. Com muitas dificuldades, não conseguiu aprender nada. Mesmo assim, passou 2 anos nessa escola e após este período a mãe o colocou em uma outra escola regular.

Na nova escola em que entrou, tornou-se agressivo por não ser compreendido pelos colegas e professores. Como só se expressava com as mãos, os coleguinhas achavam que ele tinha outra opção sexual, dentre outras dificuldades... E assim passou mais dois anos nesta escola.

Como não conseguia aprender nada, sua mãe fazia sempre com que ele repetisse o ano. Sua irmã mais nova conseguiu alcançá-lo na mesma série e ela começou a chorar dizendo que não queria estudar como o irmão por que tinha vergonha dele. E por isso aproveitando que seu pai é policial, ela fez teste de seleção para o colégio da policia militar e passou a estudar lá para ficar longe do irmão.

Nesse conflito todo, a diretora da escola, que também era psicóloga, indicou para a mãe de Gabriel aulas de fonologia na UNIFOR, lá o tratamento era gratuito e eram fornecidas as passagens do transporte. Nesse tempo, com a mãe já ficando distante, quem levava ele para a UNIFOR era a avó e a tia, e com o passar do tempo ele começou a ir sozinho.

Na UNIFOR viram que ele tinha uma dificuldade muito grande para falar, aliás nem falava, e indicaram a ele outro colégio CAS – Centro de Atendimento às Pessoas com Surdez, cujo objetivo é criar condições adequadas para o desenvolvimento pleno das potencialidades do educando. É uma escola especializada para atender pessoas com surdez. Chegando lá, logo ele se identificou com as libras, que era um meio muito mais fácil para a sua comunicação. Assim Gabriel deixou até o tratamento de fonologia.

O Gabriel estudou nesse colégio até concluir o ensino médio. Nesta escola ele se identificava com todos, não havia preconceitos contra ele, e ainda construiu várias amizades. Com o passar do tempo o rapaz tornou-se um aluno tão desenvolvido que até hoje, mesmo já tendo terminado o ensino médio alguns colegas da escola vão até a sua casa para tirar dúvidas.

Quando ele terminou o ensino médio não conseguiu entrar na faculdade, pois o governo não fornece tantos recursos para os deficientes. Então fez vários cursos que ajudou no seu profissionalismo e se inscreveu nos programas de trabalho que oferecem vagas para os deficientes e assim conseguiu um emprego.

Gabriel depois que entrou no colégio para surdos não contou mais com a ajuda da mãe que já era pouca, ele por si só fez cursos, foi atrás de empregos, criou vários amigos, compra com seu dinheiro suas necessidades, e conseguiu superar os preconceitos que infelizmente ainda existem. Hoje ele se diz muito feliz por poder ganhar seu próprio dinheiro e não depender mais tanto de sua mãe.

Sua relação com a família não é boa. Sua mãe só se preocupa em trabalhar e em cuidar de si própria. Seu pai também só vive para o trabalho. Já as irmãs, uma tem pouquíssimo contato por não saber e nem se interessar em aprender libras, e a outra é a única que ainda conversa com ele, pois se interessou em saber um pouco de libras. Mas, mesmo com todas essas dificuldades Gabriel continua forte, e tem muita garra para ir à busca de seus sonhos sem deixar que ninguém o desmotive.

Hoje Gabriel é visto como um exemplo de superação onde sua deficiência e o preconceito não foram maiores do que a sua perseverança. Porém muitos deficientes desistem dos seus sonhos, e o principal fator da sua desistência não chega a ser a sua deficiência, mas sim a forma de como a sociedade o encara.

6 comentários:

  1. Camila e Regiane vocês conseguiram com a história de vida desse garoto chamado Gabriel me comover. É triste saber que como ele existem muitos outros. Crianças que não podem ir à escola por falta de pessoas preparadas para lidar com crianças portadoras de necessidades especiais. Por ignorância e falta de atenção dos pais, o Gabriel não teve os cuidados necessários para o seu desenvolvimento intelectual e inclusão na escola no momento certo. Devemos agora fazer uma reflexão sobre o nosso papel como pedagogos e pedagogas na inclusão dessas crianças. Enquanto existir um “Gabriel” fora da escola, a sociedade não poderá ser justa. Essa não é a sociedade que eu quero.
    Cezanildo lima.

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  2. O relato feito pelas meninas,está excelente,estão de parabéns!
    Vários aspectos ao longo da leitura,me chamaram a atenção,á princípio,me chamou atenção o fato da mãe não ter percebido alguma deficiência no garoto.Hoje em dia,o que mais é aconselhado quando uma criança nasce,são os exames iniciais que detectam alguma deficiência,por exemplo,o teste do pezinho,o teste feito para a percepção ou não da audição.E uma coisa que pessoalmente achei que pode ter influênciado bastante,na não colaboração quanto a integração dessa pessoa a sociedade mais rapidamente,foi a falta de interesse da familia em notá-lo.
    Percebi que desde o começo da vida estudantil desse menino,existiram preconceitos,começando logo pelo fato que o mesmo só conseguia gesticular e com isso,os coleguinhas o rotularam com uma opção sexual diferenciada.
    Observar o progresso desse garoto,ao longo de sua vida,durante a leitura,foi de fato emocionante.
    Ver sua força de vontade de aprender e crescer como pessoa independente,é muito motivador.
    Isso só prova,que independente de qualquer dificuldade ou deficiência,o crescimento deve sempre partir de nós mesmos,não importa o que aconteça,sempre seremos os únicos responsáveis por nossa evolução pessoal e emocional,derrubando assim as barreiras que nos são impostas.

    SARAH DE ANDRADE CUNHA MARQUES

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  3. Através desta historia de Gabriel pode-se perceber que a inclusão plena de crianças com deficiência nos sistema escolar brasileiro não alcançou, ainda, avanços significativos.Por falta de informação ou omissão de pais, do despreparo dos professores e do poder público para trabalhar a diversidade, as diferenças, muitas crianças ainda vivem escondidas, isoladas em casa ou em instituições especializadas. Com o objetivo de entender as diferenças é indispensável que a escola, junto com seus profissionais, aprimore suas práticas para que as pessoas com necessidades especiais, neste caso em específico os surdos, possam exercer seus direitos em plenitude.
    Parabéns meninas, muito bom o trabalho!!!

    Aurilene Pontes

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  4. Infelizmente, histórias assim são muito frequentes. Mesmo com tanta tecnologia, no que diz respeito à detectação de doenças de crianças ainda no ventre materno,aina existem pais que não notam nada na infância de crianças com esse tipo de deficiência. por ser uma deficiência que não acarreta deformações físicas o reconhecimento é bem mais difícil. Ainda são poucos os casos conhecidos de superação como o desse garoto, mas é fato de que cada vez mais pessoas com algum tipo de deficiência estão dando a volta por cima e conquistando oseu espaço na sociedade.Parabéns pelo trabalho e pela bela história de vida!
    ana carolina 2009.2

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  5. Atenção Camila e Regiane,

    O trabalho de vocês está excelente!

    Vocês conseguiram através de uma entrevista elaborar um estudo de investigação.

    As questões que são importantes serem destacada é o que foi colocado iniciamente: o tempo que a mãe levou para descobrir que o filho havia perdido a audição. Aqui é interessante focar a atenção que se deve dar ao filho, pois é no seu período de infância que ele necessita de mais atenção, tendo em vista que este é o momento em qe ele está se desenvolvendo. Daí o motivo de que era importante a família no todo ter dado a maior atenção à criança. Contudo, nunca é tarde para tratar de tal problema. Como no caso do jovem Gabriel, em que por mais que ele tenha perdido tempo em algumas escolas, ele conseguiu vencer grandes desafios. É inquestionável que o maior desafio que ele passou foi de ter vencido o preconceito, e preconceito da própria família.

    Este que é o verdadeiro vencedor, pois sempre buscou o melhor desempenho para si, já que poucos se importavam com ele. Esse é o grade desafio que muitos devem superar, e chegar puder dizer: Eu venci!!!

    Parabéns
    Isabel C. de Lima.

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  6. O relato do Gabriel liga-se com a fala do Lairton ( um surdo oralizado convidado pela professora Rita, para dar seu depoimento para nós - estudantes de pedagogia). É compreensivel toda a revolta deste rapaz, afinal, quem não gosta de ser compreendido? É muito ruim você não ter como nem com quem desafabar. Tenho que parabenizar a Camila e Regiane pelo belissimo trabalho e principalmente ao Gabriel, por não se deixar vencer por pessoas que não acreditam na capacidade de o ser humano modificar aquilo que lhe foi imposto. Continue acreditanto em si. Quando acreditamos na gente, os outros são apenas uma poeirinha.


    Ass: Stephanie Barros

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